29 de março de 2009

Rapunzel de cabelo curto

Bicho-do-mato
De goiaba
Bicho pardo, bicho sujo
Bicho pão

No pescoço da menina
Magricela
Que está lá na janela
Esperando a procissão

A mãe da santa
Acompanha a romaria
Pinta e borda todo dia
Enquanto o pai lá no vagão

Limpa o pó da cabeceira
E também da prateleira
Do bolso e da carteira
Demodè da estação

E a donzela
Com um lenço no pescoço
Menos carne e mais osso
Cansou de esperar

Fechou sua janela
Caiu na vida, apagou vela
Sem estudo ou passarela
Foi pra esquina trabalhar

A mãe da quenga
Acompanha a romaria
Ri e chora todo dia
Enquanto o pai lá no caixão

Volta ao pó da prateleira
Sete palmos e cartucheira
Que usou na sexta-feira
Dia da demissão

E o idiota ri e goza
Finge que sente
Mente que chora
E não pára de escrever

Até onde vai a travessia?
No jornal, na poesia
Um idiota, todo dia
Não faz nada enquanto lê


Cláudio Martins.

Um comentário:

Solitude disse...

adorei, cara!