17 de junho de 2010

Dois poemas ludovicenses

São Luis, 14 de junho de 2010


I

Ao som de tiros na calada da noite, de gritos de fome nos sinais, o teu canto de morte e miséria foi cantado. Há muito o teu povo te suplica: tem pena de mim, São Luis, tem pena de mim! E continuas cantando, afogando lares em pobreza, enterrando jovens no crime... Nas noites de domingo, quando a cidade dorme, sinistros leões saem às ruas à caça de seu alimento: são como envoltos numa nuvem de sonhos, rápidos o suficiente para jamais serem notados. Alimentam-se unicamente de nossa bondade, de nossa inocência e grandeza de espírito; e em seguida vomitam torrentes de lixo e desgraça em nossa garganta; engasgamos, não queremos engolir... mas, já é tarde. E o produto grotesco da putrefação de nossos antigos valores é engolido... Eis o nosso pão de cada dia, eis o que nos sustém e o que nos torna cada vez mais miseráveis e dignos de pena...



II

Agarrada aos teus cabelos
a imagem delicada da destruição
de tuas belezas, o deslumbre
de tua morte suave.
O teu corpo de matas foi invadido,
Derrubado e afogado num
Mar de ferro e concreto;
Nas tuas veias injetaram
A podridão de toda uma
Geração desfeita em ideologias
Vazias, alienada pelas infâmias
Da mídia de massa...
E hoje são os rios de esgoto,
Causadores do teu esfacelamento,
Do teu horror e de tua desgraça
Que te desenham. Entupiram
Cada artéria tua e a tua espera
É já sem ânsia pela morte que
Te espreita...
Mas, não te entrega
Sem uma última batalha,
Sem uma última revolta contra
Os leões que te consomem...
Livra-te dos grilhões que te
Prendem ao solo, põe a faca
entre os dentes, arranca esses felinos
De seus tronos e rasga-lhes as
Gargantas... Deixa escorrer o sangue
Por sobre seus mantos de seda
E te deleita com esse momento,
Pois será este, São Luis, o símbolo
Máximo da tua vitória.