25 de janeiro de 2010

o último vaticínio

a ampulheta quebrou
e suas areias escorrem,
suaves em seu derramamento.
o Tempo passa com pés ligeiros
e nos pisa, nos esmaga,
e nós, homicidas de nossas verdades,
inquisidores de nossa fugacidade,
curvamos a cabeça,
e esperamos pacientemente
por uma absolvição
que jamais virá.
nunca fomos livres
e, não obstante, nunca nos sujeitamos
às ordens ditadas.
a Natureza criou suas leis
sabendo que iríamos ignorá-las.
toda a vida da humanidade
é baseada em ilusões,
em tentativas frustradas
de mascarar sua pequenez
com o orgulho de um fátuo
poder que nós mesmos
nos concebemos e, no imo,
sabemos não ter.
acabaremos, por fim,
e toda nossa arquitetura do vazio
se dissolverá em doces rosas
que sequer lembrarão nossa existência ínfima.
o único legado deixado será
não ter deixado legado algum.
a memória do mundo
é perspicaz em vingança
e esquecimento.
acabaremos, enfim... acabaremos.
e toda nossa arquitetura de vazio
se dissolverá em doces rosas
que sequer lembrarão nossa existência.