5 de março de 2009

Maranhense é gente

Maranhense
Ludovicense
Da casca
Do ovo
Da galinha
Que come
Minhoca
Que é comida
Pelo galo
Com crista
Sem crista
Que é comida
Por nós
Fascistas
Com cristo
Sem cristo
Matando pra viver
Pra comer
Por prazer.

Galinha que vem do fundo
Do quintal
De lama
De cimento
Ou de terra batida
Do forno
Ou do fogão
Frita ou cozida
Do beco
Da rua
Da esquina
Da avenida
Ou do galeto do Pingão.

Com sangue
Sem sangue
Farofa
Coca-cola
É o almoço
De hoje
De amanhã
De muita gente
Que quer comer
Mas não pode
Porque a galinha
Não é de graça
A galinha
Não faz graça
A galinha
Não custa caro
Pra mim
Pra ti
Pra fulano
Pra cicrano
Mas pra alguém
Que não tem
Um centavo
Uma moeda
Que não tem
Dois calções
Duas camisas
Um chuveiro
E que fede
O fedor
Do suor
Dos esgotos
Da miséria
Da pobreza
Das ruas
De São Luís do Maranhão.

Minha São Luís do Maranhão
Da gente
Mais rica
Que o presidente
Mais rica
Que muita gente
Que compra
Uma galinha
Duas galinhas
Duas mil galinhas
Sem esforço
Sem coçar
O bolso
o sovaco
o cu.

Minha São Luís do Maranhão
Do mar
Dos portugueses
Franceses
Holandeses
Dos índios
Caçados
Torturados
Explorados
escravizados
Dos negros
Caçados
Torturados
Explorados
Escravizados
Pelo branco
Que é gente
Como toda a gente
Que come
Como a gente
Farinha
Que bebe
Cachaça
Na Praia-grande
Na feira
Cachaça
Do bar do seu Batista.

Minha São Luís do Maranhão
Do homem macho
Do homem qualira
Do homem homem.

De toda a gente
Que come
Que fode
Que dorme
Que caga
Que sente.

Da gente gorda
Magra
Pela riqueza
Pobreza
Pela gula
Culpa
Culpa
Dos vermes
Da sujeira
Da doença
Do povo
Das praças
Das calçadas
Da ruas
Das avenidas
Da câmara
Dos tribunais
Dos casarões
Culpados
Pelos culpados
Ladrões
Inocentes
Vítimas
Vitimando
Homens
Mulheres
Pessoas
Vitimados
Por gente
Que acha
Ser mais
Que gente
Que a própria gente
Nossa gente
Da nossa terra
Terra.




São Luís
Do maranhão
Do Brasil
Do céu
Das coberturas
Dos edifícios
No calhau
Na litorânea
Do inferno
Das bocas-de-fumo
Dos becos
De faca
Navalha
Revolver
Porrada
Em gente
Que trabalha
E que é menos que a gente
Que acha
Ser mais que a gente.

São Luís surda
Do surdo
Do mudo
Do surdo-mudo
Na Deodoro
Na rua grande
No caiçara.

Minha São Luís do Maranhão
Que não é minha
É da gente
Que vive
Que morre
Que mata
Que a mata
Que se mata
Que fala
Que ouve
Que cala
E me ofende.


Minha São Luís do Maranhão
Da gente da gente
Da gente
Não
Não da gente.


Solitude.

4 comentários:

Jéssica Mendes disse...

Bravo!

Anonymous disse...

Quem o fez andou bebendo da mesma cachaça que Ferreira Gullar.
Thiago Campelo

Lets Figueiredo disse...

"Por gente
Que acha
Ser mais
Que gente
Que a própria gente
Nossa gente
Da nossa terra
Terra."

...enooorme..que nem a ignorância da sociedade .. inclusive dos "esclarecidos".

Anônimo disse...

sensacional, sensacional, seja lá quem tiver escrito isso...